Aprontamento 2º Batalhão Paraquedistas – Republica Centro Africana 2020

No presente Mês de Novembro de 2019, o 2ª Batalhão de Paraquedistas (2ºBIPara), sediado em São Jacinto – Aveiro, no Regimento de Infantaria nº10,  iniciou a integração do novo armamento ligeiro do Exército (pistola Glock 17, Espingarda de Assalto FN SCAR-L e metralhadora ligeira Minimi MK3 556) que irá ser empregue na sua próxima missão na Republica Centro Africana. Os Paraquedistas realizaram uma série de estágios de adaptação às novas armas e aproveitaram as recentes formações em TCCC (Tactical Combat Casualty Care) para integrarem o novo armamento nos seus treinos de Care Under Fire.

O 2º BIPara irá ser a componente Operacional da 7ª Força Nacional Destacada (FND) para a RCA. A 7ª FND é constituída por cerca de 180 militares, na sua maioria do 2º BIPara, mas incluí militares de outras unidades, como os militares que operam as Viaturas PANDUR II 8×8 da Brigada de Intervenção, e elementos do TACP (Tactical Air Contro Party) da Força Aérea Portuguesa que desempenharão a função de JTAC (Joint Terminal Attack Controller). A Força será empregue a partir de MArço 2020 como Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force – QRF) da MINUSCA (United Nations Multidimensional Integrated Stabilization Mission in the Central African Republic). Esta força ficará aquartelada em Bangui, capital da Republica Centro Afriana (RCA), no aquartelamento Francês com o nome de M´Poko.

A integração no novo armamento decorreu de uma forma muito natural. Os Paraquedistas são a unidade do Exército que usa o calibre standard da NATO (5,56x45mm) há mais tempo, tendo assim uma experiência acomulada das suas grandes vantagens em combate. As FN SCAR facilitam ainda mais a vida aos nossos militares uma vez que são mais leves e mais ergonómicas que quaisquer outras armas em serviço em Portugal. A Minimi 5,56x45mm é a metralhadora ligeira (ML) mais difundida por todo o mundo, onde a versão MK3 que veio para Portugal é uma evolução natural devido ao feedback operacional do uso constante em teatros de operações. Os Portugueses embora já usem a HK Mg4 na RCA, notaram logo vantagem significativas na nova ML, mais leve, mais ergonomica ao utilizador (coronha telescopica, punho e rails no guarda mãos), com muito menos recuo ao disparar (quase identico ao de uma arma de assalto) e com a capacidade de usar os mesmos carregadores ou tambores da FN SCAR-L (20, 30, 40 ou 60 munições) caso as fitas acabem.

Os elementos do TACP (Tactical Air Control Party) da Força Aérea Portuguesa que irão integrar a missão na RCA também estiveram presentes neste treino. A capacidade de interoperabilidade de armamento entre estes elementos e o resto da Força passa agora a ser uma realidade com as novas armas. Os militares da FAP são empenhados ombro a ombro com a QRF e já por inumeras vezes tiveram de recorrer às suas armas individuais para se defenderem dos ataques dos grupos armados. A sua maior arma é o rádio para coordenar o apoio aéro, mas quando as coisas aquecem o seu unico meio de defesa são as suas espingardas de assalto e pistola que têm de estar prontas a reagir ao segundo. Estes militares aproveitaram para conhecer as novas armas do Exército com que também treinaram e ficaram até reticentes em ter de as devolver ao fim do dia tal foi a sua excelente performance durante todos os dias de Exercicio.

No final de umas horas de aperfeiçoamento no uso das novas armas a força passou a dedicar-se à intregação de tecnicas de Care Under Fire no treino de combate. Os procedimentos CUF são a primeira fase das três etapas do TCCC (Tactical Combat Casualty Care) – Care Under Fire – CUF , Tactical Field Care – TFC e Tactical Evacuation Care – TACEVAC. As capacidades de TCCC de um unidade têm-se mostrado cruciais em todos os conflitos da ultima década. Milhares de vidas têm sido salvas devido as capacidades acrescidas dos militares com este tipo de formação e que estão integrados nas unidades de combate. Estes militares não pretendem substituir Médicos e Enfermeiros, no entanto, não é possível ter este pessoal especializado em todas as situações de combate e assim evita-se empenhá-los na frente de batalha. Com a criação de Combat Life Savers, Ranger Medics, SF 18DPararescue, etc., as unidades operacionais conseguem ter, na linha da frente, pessoal com conhecimentos básicos de Medicina de Combate que permitem estabilizar certos ferimentos que colocariam em risco de vida um militar ferido.

No caso do CUF, estamos a falar da fase inicial, em que o militar ferido está exposto a fogo directo ou indirecto por parte do inimigo. O que torna qualquer procedimento complexo e extremamente perigoso. Os militares do 2ºBIPara têm como objectivo que todos os militares que integram a unidade de manobra sejam capazes de executar os procedimentos básicos desta fase, o que poderá salvar a vida de um militar ferido até conseguirem evacua-lo para junto de pessoal especializado.

Devido ao incremento nas capacidades de ameça dos grupos armados na RCA, as viaturas, embora blindadas, estão cada vez mais em risco. Durante o exercicio foram executados procedimentos de recuperação de feridos de dentro de viaturas assim como o seu embarque. Também a recuperação de feridos em áreas descobertas e coloca-los em zonas mais protegidas foi treinado. O 2º BIPara tem um Mindset muito aguçado para o Combate de alta intensidade e em todas as manobras impõe o seu poder de fogo de modo a obliterar qualquer inimigo que tenha a audácia de atravessar o seu caminho. Isto é absolutamente essencial quando temos feridos envolvidos na manobra, o 1º procedimento Médico é destruir o inimigo para que não exista a possibilidade de haver mais feridos ao socorrer os nossos camaradas. A melhor Medicina de Combate é poder de fogo, e as novas armas vieram dar isso mesmo. A conjugação da SCAR-L com a Minimi 5,56 veio aumentar em muito o poder de fogo do Exército Português, é agora possível bater o inimigo pelo fogo por muito mais tempo com um Hit Probability muito mais elevado e com interoperabilidade entre as próprias armas, numa cadeia logistica que pode usar um só calibre para os militares apeados e os mesmos carregadores entre todos.

Na parte teórica do treino de CUF, os procedimentos foram maioritariamente relacionados com o controle de hemorragias graves que poderão colocar em risco de vida um militar ferido. Em caso de certos ferimentos um ser humano pode perder sangue tão rapidamente que em cerca de 3 três minutos falece, portanto é preciso estar preparado para executar certos procedimentos debaixo de fogo de modo a controlar essas hemorragias.

Estes militares focaram-se no uso de Torniquetes (TQ) nos membros, com o uso de marcas aprovados pelo comité de TCCC, e na aplicação de  Gaze Hemostática, como o Celox Rapid, ou  aplicadores de pó hemostático, como o Celox-A, que conseguem controlar hemorragias em cerca de 60 segundos em zonas como a axila, pescoço ou virilha onde o TQ não pode ser usado. Também foi dado ênfase à prevenção de pneumotórax hipertensivo com a rápida aplicação de um Cheast Seal, como o Fox Seal da Celox, nas perfurações que existam no Tórax.

Foi mais uma vez com grande prazer que acompanhámos estes exercicios no ambito do aprontamento da 7ª FND para a missão na RCA. Vimos profissionais treinados para combate, com espírito de Fight que faz jubilar de orgulho qualquer Português que os veja em ação. Queremos deixar aqui o desejo uma missão cheia de sucesso e glória.

QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM. Até breve…