Avião de treino T6 Texan II e o seu irmão musculado de ataque ao solo, AT-6 Wolverine

Nos ultimos meses tem-se falado muito da possibilidade de a Força Aérea Portuguesa (FAP) adquirir uma esquadrilha de aeronaves a hélice para instrução de pilotos e depois também da aquisição de um pequeno número de aviões do mesmo género mas para  ataque ao solo em áreas de pouca ameaça anti-aérea.

Textron Aviation Defense (proprietária da Beechcraft) alcançou em Julho de 2022 mais um passo importante para o seu AT-6 Wolverine, com a certificação militar (U.S. Air Force military type certification – MTC).

AT-6 Wolverine diversified weapons suit

Com a venda de um lote importante às Forças Armadas dos Estados Unidos a Textron passa assim a poder concretizar vendas da aeronave a Países aliados, por meio do programa de vendas militares estrangeiras (Foreign Military Sales – FMS), patrocinado pelo governo dos EUA, e que torna o AT-6 ainda mais atrativo. O processo de aquisição por FMS não elimina, no entanto, o atual processo de vendas comerciais diretas (DCS – Direct Comercial Sales) que é sempre mais rápido, e na maioria da vezes mais eficiente em custo, e que se manterá para os clientes que assim o desejem. Também foram vendidos pacotes de treino para o TACT (Terminal Attack Control Trainer) da Marinha dos Estados Unidos para uso do AT-6 Wolverine no treino de uso de armamento real coordenado pelas equipas de FACs (forward air controllers) e JTACs (Joint terminal attack controllers).

O porquê de um avião de ataque ligeiro

Desde a guerra do Vietnam que houve na US Air Force uma sucessão de tentativas de colocar em campo uma aeronave de ataque ligeiro de baixo custo. O programa OA-X (a origem do Light Attack Experiment) e a busca por uma nova plataforma para atender às necessidades da guerra irregular remontam a 2008. Este programa exigia um projeto pronto para uso de modo a garantir que o processo de desenvolvimento, avaliação e envio para o terreno seria rápido, e a um custo reduzido. A aeronave teria de ser capaz de operar a partir de zonas austeras em bases operacionais avançadas e ser amplamente autossustentável, pois seria empenhada a partir de bases onde faltariam capacidades de manutenção.

Os aviões de ataque ligeiro continuam um tema quente para a Força Aérea dos EUA que tem evoluído através de inúmeras iterações. Enquanto alguns oficiais superiores olham este investimento como um desperdício desnecessário de dinheiro numa altura de orçamentos apertados que se devem concentrar inteiramente em caças avançados de quinta geração, outros defendem, acertadamente, uma combinação de forças que seja sensata e sustentável onde seriam utilizadas aeronaves de ultima tecnologia, assim como outras altamente eficientes e de baixo custo no investimento e na sustentação.

De facto, nas últimas duas décadas, a prontidão das melhores aeronaves de combate Americanas e das suas tripulações aéreas altamente treinadas e preparadas para conflitos de intensidade alta contra adversários com capacidades equivalentes, foi prejudicada pelo emprego constante no combate a ameaças assimétricas, de baixo grau de intensidade, e que muitas vezes nem foram consideradas como uma ameaça antiaérea credível.

Por exemplo, em 2017 um F-22 Raptor no Afeganistão foi empenhado para atingir um laboratório de drogas no valor de cerca de US 2.800,00 $. Este caça furtivo custa cerca de US 70 000,00 $ por hora de voo, e foi utilizado para desempenhar uma missão que em comparação, poderia facilmente ter sido alcançado por um caça AT-6 Wolverine que custa cerca de US 1 000,00$ por hora de voo, e com um custo de aquisição infinitamente mais baixo.

Sobre este tema, o Tenente-General Arnie Bunch, da USAF’s office for acquisition, refere: “If we can get light attack aircraft operating in permissive combat environments, we can alleviate the demand on our fourth- and fifth-generation aircraft, so they can be training for the high-end fight they were made for.”.

O T-6C+ Texan II

O avião de treino militar Beechcraft® T-6C Texan II é uma aeronave militar de última geração, projetado para todos os níveis de instrução. Este é usado por todo o mundo e alcançou recente o estrondoso número de 1000 unidades produzidas. Este é comercializado tanto por DCS (Direct commercial Sales) tal como por FMS (Foreign Military Sales).
Construído especificamente para uma ampla gama de recursos, o modelo T-6C prepara os pilotos para missões no mundo real. Cada capacidade de treino, desde os ecrãs iniciais do piloto até o treino operacional avançado, é projetada para experiência em missões de aeronaves militares, dando aos pilotos a experiência e a confiança para alcançar o sucesso.

O T-6C Texan II permite que os pilotos vejam uma imagem completa do que se passa à sua volta. O cockpit de alta tecnologia e com uma arquitetura aberta de última geração, totalmente digital, oferece a visibilidade cristalina necessária para completar missões complexas que preparam pilotos até para caças de ultima geração, como o F35. O melhor treino requer consciência situacional total e os ecrãs de voo do T-6C apresenta a tecnologia necessária para manter os pilotos seguros e aumentar sua capacidade de treino.

O AT-6 Wolverine

Esta aeronave é a versão moderna de ataque ao solo do venerável avião de instrução Beechcraft T-6 Texan II que é usado por todos os ramos das Forças Armadas dos Estados Unidos da América e mais 12 nações estrangeiras. O AT-6 Wolverine mantém 85% de peças em comunhão com o Texan II, e embora as versões mais antigas deste avião sejam já amplamente conhecidas pelos Pilotos da FAP, que o voam para a sua formação no F16 nos Estados Unidos da América. Este avião de instrução já é vendido na versão C, D e C+, que foi amplamente modernizada com os mais modernos aviónicos, de modo a simular o cockpit do A10 e do F16.

O AT-6 Wolverine possuí um motor Pratt & Whitney Canada PT6A-68D de 1.600 Shaft HorsePower, que fornece uma relação peso-potência inigualável por outras aeronaves turbo-hélice de ataque ligeiro. O Wolverine destaca-se ainda mais graças aos seus aviónicos de eficácia comprovada, com sistemas e sensores de combate utilizados pela US Air Force. Estes também o tornam compatível com todos os equipamentos digitais de voz, dados e vídeo usados pelos JTAC (joint terminal attack controller) dos Estados Unidos assim como dos seus aliados da NATO.

Além disso, a aeronave possui um Full Glass Cockpit Esterline CMC 4000 certificado pela FAA e um sistema de missão de combate desenvolvido pela Lockheed Martin que é o mesmo que é usado no A-10 e no F16. Isto faz com que o cockpit seja uma área de trabalho muito semelhante ao F-16 e que exista um interface piloto/aeronave similar, resultando numa familiarização muito fácil e imediata para qualquer piloto de F-16.

A aeronave está equipada com uma camara L-3 Wescam MX-1 5Di que fornece imagens a cores ou infravermelho, com designador a laser, iluminador a laser, rastreador de pontos a laser e telémetro laser. Conjuntamente com os seis pontos de fixação (hardpoints) sob as asas, dos quais quatro são compatíveis com armas inteligentes graças à cablagem Mil Std 1760, dá ao Wolverine uma capacidade orgânica para encontrar e designar alvos, que podem ser atacados usando uma ampla gama de armas de precisão.

Os pods de metralhadora pesada FN Herstal HMP-400 de .50cal (12,7 mm); rockets Hydra de 70mm (não guiados); os rockets de 70mm guiados (BAE Systems Advanced Precision Kill Weapon System – APKWS); bombas de queda livre mk81 (250Lbs) e mk82 (500Lbs); bombas guiadas a laser GBU12 Paveway II (500Lbs), GBU49 Enhanced Paveway II (500Lbs), GBU58 Paveway II (250Lbs) e GBU59 Enhanced Paveway II (250Lbs), mísseis antitanque AGM-114K/M/P e R Hellfire, foram todos aprovados e certificados para uso no Wolverine, com resultados espetaculares ao nível de potencial de combate e precisão.

Com 85% de peças e ferramentas em comum com o avião de treino T-6 TEXAN II, a uniformização da frota é uma enorme vantagem, especialmente se os clientes quiserem criar rapidamente novas esquadras de aeronaves de ataque ligeiro, aproveitando tanto as linhas de pensamento de treino, tanto como as cadeias logísticas de suas frotas de treino dos T-6 existentes ou a adquirir.

Facilmente um ramo das Forças Armadas que queira adquirir um avião de treino muito económico poderá adquirir alguns T-6 Texan II, e depois complementar para missões de combate com aviões de ataque ligeiro AT-6 Wolverine, poupando assim as aeronaves de combate ao desgaste diário do treino de Pilotos.

O AT-6 destaca-se de outras aeronaves suas concorrentes devido aos seus aviónicos e equipamentos eletrónicos superiores, à sua capacidade de transportar mais armamento a maior altitude, muito mais flexibilidade na variedade de armamento, e de conseguir descolar de pistas de terra mais curtas que os outros da sua classe.

Esta aeronave tem a capacidade de se encaixar perfeitamente nas estruturas existentes das Forças Aéreas modernas. A abrangência global da Textron, especialmente em termos de cadeia logística, sustentação [ILS] e sistemas abrangentes de treino de pilotos já apoiaram a frota mundial de mais de 1000 unidades das várias versões do T-6s que foram produzidas desde os anos 90. Com uma frota global que ultrapassa 3,2 milhões de horas de voo em mais de uma dezena de países, a Textron possuí décadas de experiência minimizando assim quaisquer possíveis obsolescências de componentes, diminuindo o custo vida dos ciclos de vida dos componentes e garantindo altas taxas de prontidão. Além disso, os pilotos que treinam no T-6 fazem uma transição muito natural para o AT-6.

Tom Webster, piloto de testes do AT-6 explicou que “Throughout the Light Attack Experiment, US Air Force, Navy and Marine Corps aircrew – many of whom had previous experience with the T-6 Texan II in pilot training – validated the AT-6’s world-class capabilities. In flight, they demonstrated the Wolverine’s superior range, handling, climb rate and aerodynamic performance, especially when they conducted dissimilar formation flights with our competitor. On the ground, the AT-6’s superior power-to-weight, low center of gravity and markedly smaller taxi turn radius made it the much easier aircraft to operate during austere, unimproved runway assessments. Bottom line, they saw that the AT-6 performs better, flies faster, goes further, climbs higher and does more.”